quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bicarbonato de Soda

Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...

Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,

Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconsequência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sede!

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos

antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro

perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te

Al Berto, in 'Salsugem'

Dá-me para isto.

pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos'

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

Em Homenagem!!!

Não, não é cansaço...

Não, não é cansaço...

É uma quantidade de desilusão

Que se me entranha na espécie de pensar,

É um domingo às avessas

Do sentimento,

Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...

É eu estar existindo

E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém,

Com tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço porquê?

É uma sensação abstracta

Da vida concreta —

Qualquer coisa como um grito

Por dar,

Qualquer coisa como uma angústia

Por sofrer,

Ou por sofrer completamente,

Ou por sofrer como...

Sim, ou por sofrer como...

Isso mesmo, como...

Como quê?...

Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,

Que formidável realejo

Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.

Confesso: é cansaço!...

sábado, 19 de dezembro de 2009

Interminável



Falei a pouco nela, é só a mim que me faz sonhar? Ou há por ai mais alguém com o imaginário em aberto?

Olá!!!!!!!

Olá a todos, como estão?
Mais uma vez deixei-vos abandonados durante alguns meses.
Passaram-se tantas coisas, umas boas outras más e umas assim assim.
Mas apetece-me, tenho uma vontade que me nasce aqui das entranhas, de falar da Cimeira de Copenhaga.

Só me me vem uma palavra ao Cérebro: PARADOXO. Ou mesmo ANTIPODA, só para não me vulgarizar e usar uma palavra do tipo RIDÍCULO ou até mesmo a roçar o circense.
Então andam por este planeta, umas nações chamadas unidas à cerca de vinte anos a realizar cimeiras atrás de cimeiras para no fundo ficar tudo na mesma? É uma realidade dura mas alguém tem de o dizer, num mundo onde se diz tanta barbaridade, onde alguns iluminados destilam cá para fora tanta diarreia verbal que fazem inveja ao esgoto do inferno e não dizem o mais óbvio: ESTÃO-SE A CAGAR PRO PLANETA!!!

O que interessa é a Economia, o sair da crise, olear as engrenagens do Capital para voltarmos todos ao mesmo. Sair da Crise?????? Qual crise, sempre vivemos em Crise, uns anos menos que outros, mas o mundo sempre viveu em Crises.
Por outro lado a Natureza nunca passou por uma tão grande como a que está a atravessar. Será que a Natureza tem preço? Ou prazo de validade? Eu gostava que não tivesse, gostava mesmo.
Quioto: os paises desenvolvidos compram CO2 aos paises em desenvolvimento para poderem emitir mais. Mas o que deveria acontecer seria: países desenvolvidos ajudam países em desenvolvimento a diminuir emissões com a ajuda de nova tecnologia.

No fundo tudo isto se resume a uma história interminável de acasos e casinhos, de crises e descrises, mas que no fundo o poder económico prevalece a cima de todos os poderes e interesses mesmo os mais primários da raça Humana.