sábado, 6 de outubro de 2007

Superior ou Mercantil?

É hoje um facto incontornável que a tentativa de instaurar um Estado na melhor concepção feudal está neste momento de facto consumada.
Neste momento não será já uma tentativa mas sim uma finalização e também, talvez, um aprimoramento das características sociais e económicas dos velhos tempos feudais.
Nunca durante os 33 anos da nossa jovem, tenra e ingénua democracia se verificou um ataque tão selvagem, tão brutal como o que se verifica hoje em dia. Ataque que se verifica a todos os níveis, na saúde, no trabalho, na economia e também na educação.
Exemplo disso é o tão aclamado Processo de Bolonha e mais recentemente o novo Regime Jurídico do Ensino Superior.
É um facto a nível mundial que o "mercado" da Educação representa uma movimentação de capitais anual que ronda os 200 mil milhões de dólares, isto é, o dobro do verificado no mercado automóvel mundial. Assim o Ensino torna-se um alvo mercantilista e exemplo disso é a nova grande proposta em que o Estado se torna fiador do estudante para que este possa contrair um empréstimo coma banca a fim de financiar a sua formação académica. Tendo um período de carência de seis meses após o fim da licenciatura para que possa encontrar um sitio onde trabalhar, não interessa qual. Encontre ou não terá de pagar, senão pode ver salários (se o tiver) congelados ou
até licenças profissionais retidas como acontece por exemplo nos Estados Unidos. Chamo a isto a engorda superior da banca.
O Processo de Bolonha, mais uma grande iniciativa europeia, que nada nos trará de bom com certeza. Vamos ter um Ensino Superior em pacotes facilmente privatizáveis, que tende a criar um exército de mão-de-obra barata devido à redução de anos de estudo e que nos leva a uma banalização da cultura formativa crítica que anteriormente se conferia. O acesso ao 2º e 3º ciclo de estudos tende a ser uma potencial fonte de discriminação económica, visto que estes obscenamente caros ciclos só poderão ser acedidos pela classe económica superior. Ou seja, ser um quadro dirigente passa a ser apanágio dos ricos. O objectivo é claro, encurtamento de formação (1º ciclo) para as massas e assim produzir mão-de-obra barata à vontade do Capital e a continuação de estudos mais graduados (2º e 3º ciclo) para a classe economicamente dominante para assim existir uma verdadeira separação de poderes e de estratificação social.
É a isto que o Capital chama de sociedade do conhecimento mas que basicamente significa a filosofia do pensamento único.
Estamos assim a assistir a uma grande tentativa de privatização do Estado. Entregar o financiamento público aos poderes privados.
O sub-financiamento do Ensino é um crime contra a Democracia e contra a Constituição da República.
O Ensino Publico e de qualidade é condição necessária ao funcionamento de um verdadeiro sistema democrático.