domingo, 16 de dezembro de 2007

Um ou Dois Dólares

O conceito de pobreza é-nos apresentado de uma forma restrita, mas esse mesmo conceito tem uma definição bastante alargada. Desde os factores que conduzem a um estado de pobreza, suas consequências e o que é de facto a pobreza. Para uns ser pobre, é não poder comprar aquele plasma tão bonito que viu na montra, mas para outros pode ser como irão chegar ao fim do mês já sem o salário ou ainda o sonhar com uma sobra de pão.

Assim podemos tentar chegar ao paradigma da pobreza e sua definição. Para o Banco Mundial a pobreza extrema define-se como viver ou sobreviver com menos de um dólar por dia e pobreza moderada como viver ou sobreviver com um a dois dólares por dia. Note-se que a palavra sobreviver não consta na definição oficial constando apenas a palavra viver. Assim sendo e em geral falando da pobreza a um nível mundial estima-se que cerca de um bilhão e cem milhões de pessoas tenham um nível de consumo inferior a um dólar por dia e que dois bilhões e setecentos milhões de pessoas sobrevivam com um a dois dólares por dia.

O que significam estes “números” para nós portugueses? Aparentemente nada, salvo o facto de ser realmente uma questão urgente e dramática. Um problema, várias causas e consequências. Já lá vamos. Antes disso falemos de nós portugueses.

De acordo com o último estudo sobre o assunto do Instituto Nacional de Estatística, datado de 15 de Outubro deste ano, aproximadamente um quinto da população residente em Portugal vivia em risco de pobreza. O que é isto de risco de pobreza? Segundo o mesmo Instituto referenciado à pouco, está no limiar da pobreza o adulto cujos rendimentos anuais sejam inferiores a quatro mil, trezentos e vinte e um euros, o mesmo será dizer, sobreviver com cerca de trezentos e sessenta euros por mês. Existe um preconceito estabelecido na nossa sociedade que nos remete para a explicação mais simples e desresponsabilizadora que existe, nada mais, nada menos de que só é pobre quem quer. Então porque é que os índices mais altos de pobreza se encontram entre os idosos e as crianças? São as faixas etárias mais desprotegidas e sem poderem inverter a sua situação sem o apoio, nomeadamente da Acção Social do Estado ou de instituições Particulares de Protecção Social, ou seja, pobres à força. Tal como eles, existem estratos na nossa sociedade com mais hipóteses de virem a ser pobres, para além dos já mencionados, estão os desempregados, empregados a tempo parcial ou precário (o qual é bastante elevado no nosso país), doentes e deficientes, mulheres, membros de grandes famílias ou de famílias monoparentais e os membros de minorias étnicas.

No universo europeu a pobreza atinge aproximadamente setenta e oito milhões de pessoas, sendo que a taxa de pobreza portuguesa é superior à média europeia.

As causas para se chegar a um nível de pobreza são as mais variadas desde factores politico-legais, factores económicos, factores socioculturais, factores naturais, problemas de saúde, de salientar que uma pessoa doente tem ainda mais propensões para estar sobre o estado de doença e por isso cada vez mais impossibilitada para exercer uma actividade profissional, factores históricos e a insegurança. De facto estes aspectos podem conduzir a um conceito mais específico ao nível das teorias que tentam explicar a pobreza. Oscar Lewis nos anos sessenta lançou uma das teorias mais influentes neste âmbito, a cultura da pobreza, segundo esta teoria, a pobreza é o resultado de uma atmosfera social e cultural mais vasta nas quais as crianças pobres são socializadas. Ou seja, as crianças são educadas segundo uma cultura de pobreza transmitida entre gerações e que leva os jovens desde cedo a não verem razões para aspirar a algo mais. Resignam-se a uma vida de empobrecimento.

A pobreza conduz a consequências dramáticas para os indivíduos e famílias, desde as deficientes condições de alojamento, na limitação de escolhas para os filhos, condições de transporte, vestuário, são inúmeros os efeitos desta condição e que nos levam a um dos mais preocupantes estigmas da nossa sociedade, a exclusão social, que significa o impedimento dos indivíduos de participarem em pleno envolvimento na sociedade. Neste aspecto o estado providencia pode e deve ter um papel activo na atenuação, já não referindo a extinção, deste problema tão dramático que nos atinge em particular e ao mundo em geral.

Termino assim explicando que a ausência de números se deve ao facto de estar a falar de pessoas concretamente e não de matemática ou economia, este é um problema central e humano não podendo ser reduzido a números como é apanágio dos políticos da nossa praça, sendo a sua ausência propositada. Termino também com uma mensagem de esperança e também porque estamos em época natalícia, lembrando que os outros também existem.

Fica a lembrança de que:
• Dezoito milhões de pessoas morrem por ano por razoes relacionadas com a pobreza, sendo que na sua maioria são mulheres e crianças.
• Por ano onze milhões de crianças não chegam a completar cinco anos.
• E que mais de oitocentos milhões de pessoas estão subnutridas.

Feliz Natal e o desejo de um Ano Novo cheio de esperança.

Orlando Almeida